31 outubro, 2010

Insaciedade

 
Não se contém o verbo que aflora
e salta língua a dentro

falo-te à garganta
como se te compreendesse a sede

e te contentasse no lábio úmido
o falo dessa fome tanta.

Monica San

Bússola



Acolho entre as pernas
o sal do teu corpo

somos mar 
a revelia um do outro

se amar nos concerne

somos vento
em vela soprando...

e então somos rumo.




Monica San

23 outubro, 2010

Decisão

 "Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida." J. Saramago
                                                            
Decidir nosso destino numa urna, colocar o futuro em mãos incertas na esperança de que outrém faça por nós o que nós mesmos não somos capazes de fazer. Cuidar da vida.
É bem mais fácil esperar pela providência divina ou dependurar nossas expectativas no ombro alheio do que acordar para o tamanho de nossa responsabilidade dentro do atual cenário que vislumbramos.
 É certo que uma população de milhões precisa de representantes para as tarefas mais difíceis, para as decisões que demandam o uso e o conhecimento de leis, estratégias econômicas, diplomacia no trato com outros governos de outros países, e outras tantas atribuições que recaem sobre os ombros daqueles que se aventuram a abraçar as causas políticas.
 Mas na verdade, os maiores complicadores destas decisões e ações são nossas próprias atitudes. Tornamos a vida bem mais difícil do que ela realmente é. E atribuímos às suas dificuldades as nossas derrotas e revoltas, quase nunca reconhecendo nossas falhas e nossa incapacidade de lidar com o simples.
A questão é mundial, é humana, o homem trocou seus valores pessoais por conceitos fabricados, trocou sua dignidade por moedas, e aprendeu a vender a vida, seu único bem, a preço de banana. (levando-se em conta aqui, apenas o valor monetário da fruta e não o valor nutritivo,o único real). E foi o próprio homem quem começou tudo isso, não se sabe bem quando nem como.


Mas o que realmente deveria interessar é o "acordar" destes valores perdidos, o despertar para o simples, para o essencial.
O cuidar de um filho, por exemplo, como um presente de Deus, não como uma árdua tarefa ou obrigação. O cuidar da natureza como a manutenção da vida, como preparar um futuro que apesar de incerto, pode ser sempre melhor. O cuidar do "outro" como se a si mesmo estivesse cuidando, pois que "não há vida que independa de outra vida".
Meu desprezo aqui, pode custar uma vida do outro lado do mundo.

Não importa quem venha a governar este país, se não tomarmos a única decisão que realmente importa: acordar para o que se perdeu e reaprender a cuidar da vida.

 

13 outubro, 2010

Solitude

Dia pálido, esquálido e mudo
tão inútil quanto absurdo
até a última gota


e outros tantos virão
agonizantes e intermináveis


dias dobráveis
hermeticamente acondicionáveis
neste "estar no mundo"


dias passáveis
salvos por noites incontáveis


em que só, se é de um tudo.


Monica San

12 outubro, 2010

Artimanha

Essa inocência silenciosa
que no verso é prosa
morna e lenta


essa malemolência sem jeito
e sem proveito
que se perde nos vãos


escorre vontades
por cantos velados
e arde


Esse silêncio
é balbúrdia e é alarde


paz sem parte alguma
é pura arte.


Monica San

08 outubro, 2010

Na onda

Surfista de lotação. Sorria, assim, como se a onda o levasse a outras ondas. E a platéia, ainda que não o aplaudisse, seguia com os olhos indignada.
Era o seu momento êxtase (ou crak), em ondas gigantes.


Eu, em mim, despertava o momento ira. Raiva do mundo, raiva da vida, raiva da onda.
Dessa "onda" de permissividade coletiva.
Dos olhos que nada vêm, e das mãos que nada fazem.


Da justiça, que às cegas, tateia.


Monica San

Parabólica



Difícil é ser
concreto


se traço abstrato
e incerto


difícil é ser reta.


Monica San

Tem poesia

Tem poesia


vazia ferve verve
verve vazia ferve
ferve verve vazia


na lata.


Monica San

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