26 janeiro, 2011

Cinzas

Plúmbeos são os dias
que se desenrolam
na língua que se enrola
ao cinza da rotina


Não profere nem determina
coisa alguma.


Desconforto
que acinzenta a vida
no silêncio que cinge
e na dormência da alma
que ferida finge


Nem noite nem dia
língua morta, exílio, afasia.


Monica San

Do nada

Transborda
da taça o vazio
e a taça vazia
emborca o nada

No meio do nada
pensamentos
tão vazios quanto

melhor seria
esvaziar a mente
encher a taça
e embriagar-se
-somente-

Mas há
no vazio insistente
tudo quanto se enche
de um nada

que de tão vago e demente
transborda e emborca

palavra.

Monica San

Pacto

Rasgo no verbo encarnado
entranhas e sedas
corrompidas e corroídas
em estranhas lavras
Lavo o sangue
e na língua corrosiva
escamoteio.

Me lambe
e segreda-me os meios
(não sou de confiança?)
Sabes-me
bem mais que os seios.


Monica San

09 janeiro, 2011

Calmaria

Sentido

De repente era na língua
assim, a novidade
a certeza do laço
o traço tanto incerto
quanto marcado.

De repente era no braço
assim, o gosto largo
do fogo e do afago
o lastro d'alma
trazendo dias calmos.

E de repente
era nada

um fio d'água
no cristal partido

De repente, assim...

Monica San

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